Condomínios incentivam ações solidárias para ajudar os mais afetados pela pandemia

Para driblar a barreira do isolamento social, administradoras decidiram levar as ações solidárias para dentro dos condomínios; segundo executivo, ato de ver outro morador doando faz com que engajamento seja maior


Os brasileiros têm vontade de praticar ações solidárias, mas muitos não sabem como fazer na prática. Segundo uma pesquisa do Datafolha encomendada pela marca Omo e divulgada no ano passado, 96% dos 1,5 mil entrevistados disseram querer ser solidários, mas apenas 27% efetivamente se envolvem em ações coletivas organizadas. A maioria age de forma pontual e individual (68%) por desconhecer outras maneiras de realizar ações do tipo.

Com o isolamento social decorrente da pandemia, a distância que separa o desejo de ajudar da ação de fato poderia se tornar ainda maior – e foi pensando nisso que algumas administradoras decidiram levar as ações solidárias para dentro dos condomínios. Foi o caso da BBZ, que procurou a Cruz Vermelha São Paulo com a ideia de trazer as campanhas da entidade para os mais de 600 prédios que administra. Iniciada há pouco mais de uma semana, a Campanha do Agasalho teve uma adesão tão forte por parte dos moradores que alguns síndicos já solicitaram a segunda caixa.

“O condomínio é o melhor lugar para buscar doação porque é de fácil acesso”, diz o diretor da BBZ, Roberto Piernikarz. Ele conta que o fato de bastar descer pelo elevador para fazer a doação também serve de estímulo para que toda a comunidade do prédio se engaje. “A comunicação é muito rápida entre os condôminos. Quando uma pessoa vê a outra descendo com um agasalho ou uma cesta básica, ela se encoraja a fazer igual.”

Além de participar das campanhas da Cruz Vermelha, a administradora também lançou, em 2020, um projeto que tinha a meta de arrecadar 18 mil cestas básicas em 18 dias. “Foi uma vitória muito grande porque chegamos a 19 mil cestas”, diz o executivo. “O ensinamento que a gente tenta deixar para todo o mundo é que os melhores momentos da vida ocorrem quando você doa, não quando você recebe.”

Para Bruno Semino, diretor executivo da Cruz Vermelha São Paulo, a parceria com a BBZ tem sido fundamental. “Já estamos retirando caixas e mais caixas. É um retorno muito positivo em oito dias de campanha.” Ele explica que, depois de retiradas, as doações ficam armazenadas por um período de quarentena, para então serem higienizadas e empacotadas para distribuição.

Para a síndica profissional Márcia Vieira, que cuida do dia a dia de um condomínio de 66 unidades na zona norte de São Paulo, o espírito de solidariedade foi acentuado pela pandemia. Ela conta que a caixa deixada pela Cruz Vermelha no prédio lotou em menos de uma semana e ela já precisou providenciar mais uma. Em outro condomínio do qual é síndica, um caminhão da Legião da Boa Vontade não bastou para levar os itens doados. “Para nós, síndicos, é também importante saber para onde isso vai”, ela fala. “Quando a gente tem essa confiabilidade e sabe que as doações vão chegar às pessoas, o engajamento é gigante.”

Ajuda às favelas
Parceira da Central Única das Favelas (Cufa) há mais de um ano, a Lello também levou com força as ações solidárias para dentro dos condomínios que administra. Iniciada em abril do ano passado com o objetivo de auxiliar as favelas da capital paulista no combate à covid-19, a campanha #Xô, Corona! arrecadou mais de R$ 85 mil e beneficiou por volta de 95 mil pessoas em situação de vulnerabilidade.

Chegada a temporada das festas de fim de ano, os condomínios receberam árvores de Natal com cartões que davam dicas de presentes e doações em dinheiro foram arrecadadas por meio da plataforma de crowdfunding Benfeitoria. Moradores das favelas de Heliópolis, Paraisópolis, São Bernardo e Cai Cai receberam 2 mil presentes de moradores de condomínios da Lello, entre bonecas, bolas de futebol, jogos de tabuleiro, bicicletas e mochilas.

Outra parceria com a Cufa foi para apoiar o projeto Mães da Favela ON, que busca democratizar o acesso à internet, com a distribuição de chips de conexão para que crianças e adolescentes das favelas possam assistir às aulas remotas e acessar conteúdos de ensino. Com pontapé inicial no Dia das Mães, está em andamento também a campanha Amor que Alimenta, que deve durar até o fim do mês. Os pontos de doação foram distribuídos em 17 prédios e a Lello abriu uma vaquinha online para distribuir cestas básicas ao Mães da Favela.

Presidente global da Cufa, o ativista, rapper e empreendedor Preto Zezé conta que a pandemia atingiu em cheio o principal foco de atuação da organização, que era a mobilização das pessoas nas favelas. “Nossos espaços de esportes e educação se transformaram em verdadeiros centros de distribuição e logística porque as grandes empresas viram na Cufa uma interface para que as doações de grande escala chegassem de fato até as pessoas”, diz.

Determinado a provocar ações solidárias de dentro para fora nos moradores, o Grupo Graiche vem apostando em campanhas sociais desde o início da pandemia, mas com uma pegada diferente. A ideia, segundo a vice-presidente Luciana Graiche, é que as pessoas não precisem se deslocar para adotar pequenas atitudes que mudam o mundo.

Da plataforma Clube Solidário – na qual condôminos que têm negócios, oferecem serviços ou vendem produtos artesanais para fomentar o comércio local – à iniciativa que convida os moradores a homenagear os empregados do prédio, que ficaram longe da família na pandemia, tudo segue a premissa de que ser solidário não é necessariamente doar dinheiro. “Se você pede um delivery, por que não pedir junto uma sobremesa para o seu porteiro, que está sempre recebendo sua comida?”, sugere a executiva.

Por Estadão Conteúdo.

Edilayne Martins

"Não viva para que a sua presença seja notada, mas para que a sua falta seja sentida." (Bob Marley)

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