Aplicativo de transporte voltado apenas para o público feminino chega à Brasília

A economia do compartilhamento para a mobilidade urbana entrou em um novo filão do mercado de Brasília: o de gênero

Adriana dirige pelo aplicativo e se sente mais segura.
Cadastrado recentemente pelo Governo do Distrito Federal no rol de aplicativos de celular para a chamada “carona paga”, o Mobi5 se diferencia por ter apenas mulheres no volante e no banco de passageiro. A novidade no asfalto segue a tendência de outras capitais, como Rio e São Paulo.

Um dos fundadores da empresa é o advogado Marcelo de Bragança, que aponta a tecnologia também como um enfrentamento à insegurança da mulher no dia a dia. “Muitas delas se sentem ameaçadas ou com medo ao usarem aplicativos de transporte. Os casos estão aí, de estupro, violência sexual e outras coisas. A nossa ideia era ir contra essa sensação de insegurança e permitir uma alternativa no leque de opções da passageira.”

Idealizador da plataforma e sócio de Marcelo, o desenvolvedor de software Daniel Afonso explica que o Mobi5 também representa um fomento ao mercado de trabalho feminino. “Muitas motoristas do nosso aplicativo vieram trabalhar conosco por saberem que lidariam com outras mulheres como carona. A lógica da Mobi5 acabou ajudando a entrada delas no mercado de trabalho. A motorista estava desempregada, pegou o carro e veio gerar renda.”

A motorista Adriana Gouveia, cadastrada na empresa, concorda. “Você, dirigindo com clientes mulheres, também se sente protegida, porque o risco de um assédio masculino ou algo pior, como uma violência física, sempre há. É um temor constante.” Ainda segundo Adriana, as clientes logo comentam. “Elas entram no carro e desabafam sobre ser mulher nessa sociedade. Ser mulher sozinha num carro de um desconhecido, sabe? E o aplicativo acaba com isso, porque serão apenas duas mulheres no carro. É muito mais tranquilo.”

O desenvolvedor do aplicativo, Daniel Afonso, aponta que o aplicativo reforça a entrada das mulheres no mercado de trabalho

Cliente da empresa, a lojista Suzane Garcia, 32 anos, aprova. “Quando saía do shopping para casa era horrível. Tarde da noite você fica preocupada com o tipo de motorista que podia aparecer pra te buscar através desses aplicativos. Como sei que é uma mulher que vai dirigir, me sinto mais confortável. A conversa é até melhor.”

Por outro lado, a representante da União Brasileira de Mulheres, Maria das Neves, diz que a iniciativa é louvável para a segurança do dia a dia, mas a complexidade do machismo precisa ser enfrentada mais fortemente. “Não adianta tapar o sol com a peneira sempre. A empresa tem seu interesse comercial e aposta num mercado que existe por conta da violência social contra nós, essa cultura do medo e da insegurança, mas isso tem que mudar. Cabe aos governos botarem na ordem do dia de suas gestões essa problemática, a da cultura da violência contra a mulher.” E emenda: “A mulher tem que usar o serviço do homem e vice-versa, sem essa segregação.”

O Mobi5 já conta mais de 90 motoristas cadastradas, e a tendência, pelo visto, é aumentar. A expectativa da empresa é que a frota dobre até o fim do ano, podendo até ultrapassar as fronteiras do “quadradinho”. “A gente quer lançar a plataforma também em Palmas (TO), que tem a característica do planejamento arquitetônico muito presente, como Brasília. E isso é fundamental para os primeiros passos do app.”

Portal Cidades e Condomínios por Jornalista Bruno Trezena

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